Entendendo a Cannabis Medicinal
A cannabis medicinal deixou de ser um tema marginal para ocupar um espaço cada vez mais relevante na prática clínica, na pesquisa científica e nas políticas de saúde. Com o aumento da procura por esse tipo de tratamento, cresce também a necessidade de informações confiáveis para pacientes e de embasamento técnico para profissionais de saúde. Este post foi elaborado com o objetivo de explicar, de forma acessível e baseada em evidências, o que é a cannabis medicinal, como ela atua no organismo, quais são suas principais indicações, riscos e aspectos legais no Brasil.
Dra. Fernanda Valeriano | CRM-MG 67890
12/13/20253 min read


A cannabis medicinal refere-se ao uso terapêutico de derivados da planta Cannabis sativa, indica ou ruderalis, com finalidade médica, sempre mediante prescrição e acompanhamento profissional. Diferentemente do uso recreativo, seu emprego envolve formulações padronizadas, doses individualizadas e objetivos terapêuticos bem definidos, considerando riscos, benefícios e alternativas disponíveis. A planta da cannabis contém mais de 500 compostos químicos, sendo os mais relevantes os canabinoides, os terpenos e os flavonoides. Entre os canabinoides, destacam-se o canabidiol (CBD), que não possui efeito psicoativo e apresenta propriedades ansiolíticas, anticonvulsivantes, analgésicas, anti-inflamatórias e neuroprotetoras, e o tetraidrocanabinol (THC), responsável pelos efeitos psicoativos, mas também associado a ação analgésica, antiemética, relaxante muscular e estimulante do apetite. Outros canabinoides, como CBG, CBN, CBC e THCV, vêm sendo estudados por seus potenciais terapêuticos. Os terpenos conferem aroma e sabor à planta e também possuem efeitos farmacológicos próprios, enquanto os flavonoides contribuem com propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias.
Os efeitos da cannabis no organismo ocorrem principalmente por meio da interação com o sistema endocanabinoide, um sistema biológico presente no corpo humano responsável por manter o equilíbrio interno, conhecido como homeostase. Esse sistema é composto por receptores específicos, endocanabinoides produzidos pelo próprio organismo e enzimas que regulam sua síntese e degradação. Os canabinoides da planta modulam esse sistema e também interagem com outros mecanismos, como os sistemas serotoninérgico, dopaminérgico, GABAérgico e receptores vaniloides, o que explica sua atuação em funções como dor, sono, humor, apetite, memória, inflamação e resposta imunológica, reforçando a necessidade de prescrição individualizada.
Na prática clínica, a cannabis medicinal pode ser considerada em diversas condições, especialmente quando tratamentos convencionais falharam ou causaram efeitos adversos importantes. Entre as indicações mais comuns estão epilepsias refratárias, dor crônica, ansiedade, insônia, espasticidade, náuseas e vômitos induzidos por quimioterapia, algumas doenças neurodegenerativas e, em casos selecionados, transtornos do espectro autista. É importante ressaltar que o nível de evidência científica varia entre as diferentes indicações. Um conceito relevante nesse contexto é o chamado efeito entourage, que descreve a ação sinérgica entre canabinoides, terpenos e flavonoides, podendo potencializar os efeitos terapêuticos e modular efeitos colaterais, o que explica por que alguns pacientes respondem melhor a extratos de espectro completo ou amplo, enquanto outros se beneficiam de formulações isoladas, como o CBD purificado.
A cannabis medicinal pode ser administrada por diferentes vias, como óleos sublinguais, cápsulas, sprays orais, formulações tópicas e, em situações muito específicas e regulamentadas, produtos inaláveis. A escolha da forma de uso depende da condição clínica, da idade, da tolerabilidade, da farmacocinética desejada e da segurança. Embora seja considerada relativamente segura, a cannabis não é isenta de riscos, podendo causar efeitos como sonolência, tontura, boca seca, alterações gastrointestinais, ansiedade, taquicardia e interações medicamentosas, especialmente quando há presença de THC ou uso concomitante de outros fármacos.
No Brasil, o uso medicinal da cannabis é permitido, desde que respeitadas as normas da ANVISA. É possível importar produtos mediante prescrição e autorização, utilizar produtos nacionais regularizados e, em situações específicas, obter autorização judicial para cultivo com fins medicinais. Em todos os casos, a avaliação deve ser individualizada. A cannabis medicinal não deve ser utilizada por conta própria, pois seu uso seguro envolve avaliação clínica completa, definição clara da indicação, escolha adequada do produto, titulação individualizada da dose e monitoramento contínuo da eficácia e da segurança. O uso responsável é o que garante melhores resultados terapêuticos e maior proteção ao paciente.
Contato
Fale conosco para dúvidas ou sugestões:
academiadecanabinoides@gmail.com
© 2025. All rights reserved.
Academia Brasileira de Canabinoides