Cuidados Especiais e Grupos de Risco para Uso de Cannabis Medicinal

O uso da cannabis medicinal tem crescido de forma significativa no tratamento de diversas condições clínicas. No entanto, apesar de seu potencial terapêutico, nem todos os pacientes respondem da mesma forma aos canabinoides. Alguns grupos apresentam maior risco de efeitos adversos, exigindo avaliação criteriosa, acompanhamento rigoroso e, em alguns casos, a não indicação do tratamento. Este artigo aborda os principais grupos de risco e os cuidados essenciais para garantir a segurança do paciente na prescrição de cannabis medicinal.

Dra. Fernanda Valeriano | CRM-MG 67890

12/8/20252 min read

      Alguns grupos de pacientes exigem cuidados especiais no uso da cannabis medicinal, pois apresentam maior risco de efeitos adversos e necessitam de acompanhamento mais rigoroso. Crianças e adolescentes, por exemplo, possuem o sistema nervoso central ainda em desenvolvimento até aproximadamente os 25 anos, o que os torna mais vulneráveis aos efeitos dos canabinoides, especialmente do THC. Nessa população, devem ser priorizadas formulações ricas em CBD, com teor mínimo ou ausente de THC, sempre com consentimento formal dos responsáveis legais e monitoramento atento de possíveis alterações cognitivas e comportamentais. O uso recreativo nessa faixa etária não é seguro.

      Os idosos também fazem parte de um grupo de risco importante, principalmente devido à polifarmácia, às mudanças na forma como o organismo metaboliza medicamentos e à maior sensibilidade aos efeitos adversos. Nesses pacientes, são mais comuns efeitos como sedação excessiva, tonturas, confusão mental, hipotensão postural e quedas. Por isso, recomenda-se iniciar o tratamento com doses muito baixas, realizar titulação lenta, revisar cuidadosamente as interações medicamentosas, reavaliar com frequência e sempre considerar o risco de quedas.

      Pacientes com psicose ou com história familiar de transtornos psicóticos exigem atenção redobrada. A relação entre cannabis e saúde mental é complexa, e o THC pode precipitar ou agravar sintomas como alucinações e desorganização do pensamento. Nesses casos, deve-se evitar produtos ricos em THC, optar por formulações mais seguras e monitorar de perto alterações de humor, sono e comportamento.

       Indivíduos com doenças cardiovasculares também demandam cautela, uma vez que o THC pode provocar taquicardia, elevação transitória da pressão arterial e arritmias em pessoas suscetíveis. Sempre que possível, o THC deve ser evitado ou utilizado com extrema cautela, com monitoramento atento de sintomas cardiovasculares ao longo do tratamento.

    Pacientes com doenças hepáticas ou renais merecem acompanhamento específico, já que os canabinoides são metabolizados principalmente pelo fígado. Nesses casos, é fundamental observar sinais de acúmulo da substância, monitorar efeitos colaterais, avaliar interações medicamentosas e solicitar exames laboratoriais sempre que necessário.

     Outro grupo que exige atenção especial é o de pacientes em uso de múltiplos medicamentos. O CBD pode interferir nas enzimas do citocromo P450, alterando os níveis séricos de diversos fármacos, como anticoagulantes, anticonvulsivantes, benzodiazepínicos, antidepressivos e opioides. Por isso, revisar cuidadosamente toda a prescrição antes de iniciar a cannabis medicinal é uma etapa indispensável para a segurança do paciente.

      Por fim, pacientes com histórico de dependência química também devem ser acompanhados de forma mais próxima. Embora o risco de dependência seja menor quando a cannabis é utilizada com finalidade terapêutica, ele não é inexistente, especialmente em produtos que contêm THC. Nesses casos, o uso deve ser criterioso, com objetivos terapêuticos claros, monitoramento contínuo e cautela na escolha da formulação.