Efeitos Colaterais e Monitoramento de Eventos Adversos da Cannabis Medicinal

A cannabis medicinal tem demonstrado benefícios terapêuticos em diversas condições clínicas. No entanto, como qualquer intervenção farmacológica, não está isenta de efeitos colaterais. Reconhecer, prevenir e monitorar eventos adversos é essencial para garantir a segurança do paciente, otimizar resultados clínicos e reduzir riscos. Neste artigo, abordamos os principais efeitos colaterais da cannabis medicinal, os fatores que aumentam o risco e as estratégias práticas de monitoramento e manejo clínico.

Dra. Fernanda Valeriano | CRM-MG 67890

12/9/20253 min read

       A cannabis medicinal tem se consolidado como uma alternativa terapêutica importante para diversas condições clínicas, como dor crônica, epilepsia, distúrbios do sono, ansiedade, espasticidade e algumas doenças neurológicas. No entanto, assim como qualquer medicamento, seu uso pode estar associado a efeitos colaterais. Reconhecer esses efeitos, monitorá-los adequadamente e orientar corretamente o paciente são etapas fundamentais para garantir a segurança do tratamento e bons resultados clínicos.

        De forma geral, a cannabis medicinal é bem tolerada quando utilizada sob prescrição médica e com acompanhamento adequado. A maioria dos efeitos colaterais tende a ser leve a moderada, dependente da dose e reversível com ajustes simples no tratamento. Ainda assim, é essencial que tanto o médico quanto o paciente estejam atentos aos sinais do organismo, especialmente nas fases iniciais da terapia ou durante mudanças de dose.

         Entre os efeitos colaterais mais comuns estão sonolência, fadiga, tontura, boca seca, alterações do apetite, náuseas e, em alguns casos, diarreia. Esses sintomas costumam aparecer nos primeiros dias de uso ou após aumentos de dose e, na maioria das vezes, melhoram espontaneamente à medida que o corpo se adapta. Quando persistem, ajustes na dose, no horário de administração ou até na formulação do produto costumam ser suficientes para resolvê-los.

       Os efeitos neuropsiquiátricos merecem atenção especial, principalmente quando há uso de produtos que contêm tetrahidrocanabinol (THC). Ansiedade, sensação de confusão mental, alterações de memória, dificuldade de concentração, agitação e, raramente, crises de pânico ou alucinações podem ocorrer, sobretudo em doses mais elevadas ou em pessoas mais sensíveis. Por isso, pacientes com histórico de transtornos psiquiátricos precisam de avaliação cuidadosa antes do início do tratamento e de acompanhamento mais próximo ao longo do uso.

  Também podem ocorrer efeitos cardiovasculares, como taquicardia, palpitações e queda da pressão ao se levantar, especialmente associados ao THC. Em indivíduos com doenças cardíacas, esses efeitos exigem cautela redobrada, doses mais baixas e monitoramento clínico contínuo. Da mesma forma, pacientes idosos, que frequentemente usam vários medicamentos ao mesmo tempo, tendem a ser mais sensíveis aos efeitos da cannabis e precisam de titulação lenta e individualizada.

        Em tratamentos prolongados, sobretudo com CBD em doses moderadas a altas, podem surgir alterações laboratoriais, como elevação das enzimas hepáticas. Isso não é comum, mas reforça a importância de acompanhamento médico e, em casos selecionados, da solicitação periódica de exames laboratoriais. Além disso, o CBD pode interferir no metabolismo de outros medicamentos, aumentando ou reduzindo seus níveis no organismo, o que torna ainda mais importante a avaliação da prescrição como um todo.

      O monitoramento dos eventos adversos não deve ser passivo. Durante o acompanhamento, é fundamental que o profissional questione ativamente o paciente sobre possíveis efeitos colaterais, mudanças no sono, no humor, no apetite, na disposição e na rotina diária. Muitas vezes, o paciente não associa determinados sintomas ao tratamento ou não os relata espontaneamente, acreditando que sejam esperados ou irrelevantes.

       A educação do paciente é uma das ferramentas mais poderosas para a segurança do tratamento. Quando o paciente entende quais efeitos podem ocorrer, em que situações deve procurar o médico e por que não deve ajustar a dose por conta própria, o risco de complicações diminui significativamente. Orientações claras sobre o uso correto do produto, horários, possíveis interações, restrições para dirigir ou operar máquinas e sinais de alerta fazem parte de uma prescrição responsável.

       Na grande maioria dos casos, os efeitos colaterais da cannabis medicinal são manejáveis com ajustes simples. Reduzir a dose, espaçar melhor as tomadas, mudar o horário de uso ou até trocar o tipo de produto costuma ser suficiente. Em situações mais raras, quando surgem eventos adversos importantes, a suspensão do tratamento pode ser necessária, sempre com orientação médica.

        A cannabis medicinal não deve ser encarada como uma solução milagrosa, mas sim como um recurso terapêutico que exige ciência, cuidado e acompanhamento contínuo. Monitorar efeitos colaterais e eventos adversos não é apenas uma boa prática clínica, é um compromisso ético com a segurança do paciente e com a qualidade do cuidado. Quando bem indicada, bem acompanhada e usada com responsabilidade, a cannabis pode oferecer benefícios reais, com riscos controláveis e previsíveis.